Erick Tavares da Silva

Eu levei mais tempo do que devia pra começar a escrever esse texto. Eu provavelmente não deveria estar aqui fazendo-o. É que sempre se torna muito mais fácil a gente guardar o sentimento pra si e nunca falar abertamente sobre, até que aconteça algo que torne impossível de falarmos pessoalmente sobre aquilo.

Se me perguntarem como a nossa amizade começou, eu digo, na mesma hora: começou porque era pra ser.
Como, no meio de tanta gente que se alista, logo dois vizinhos de bairro iriam se encontrar. Com um empurrão do cara lá de cima. Se eu fosse falar sobre o início de tudo, eu diria que foi intenso, né? Eu tava passando por tanta coisa na época, você também, e só vivia cansado ainda por cima.

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Algo que eu nunca vou esquecer, e que realmente me pegou agora de manhã, é o fato de que eu usava esse mesmo blog à época e você me dizia que me via velho, escrevendo, com um copo de uísque. Eu só não estou bebendo porque são 9:25 da manhã, mas o de ontem à noite conta?

A gente viveu tanta coisa nesses 11 anos de amizade recém-completos que fica difícil de definir qual foi o ponto mais importante, já que foram tantos. Teve quando a gente levou meu irmão pra fazer trilha e ele se cagou de medo quando chegamos na beirada do Andaraí Maior.

Tiveram a vez que pegamos o carro da minha mãe sem pedir e eu não tinha carteira ainda. Os aniversários meus que tu ia e os teus que eu tive dificuldade de ir recentemente e eu sempre ligava antes dizendo que não iria.

Foram tantas miudezas e grandiosidades que eu realmente não sei dizer mais muita coisa. Talvez eu não envelheça a ponto de ser o velho escritor e bebedor de uísque, até porque o dom da escrita tem me fugido um pouco mais a cada dia.

Mas você pode ter certeza que eu serei o amigo que não esquece.

Não vou esquecer dos milhões de estilos capilares que você apresentou, das infinitas vezes que tu me sacaneou sobre minha barba, das poucas vezes em que seu joelho te permitiu jogar uma pelada comigo e das 3 vezes que tentamos emagrecer correndo no Engenhão junto com uma tentativa de eu te usar como ajuda pra prática de Futebol Americano.

Vê, a escrita tem me abandonado, tal qual eu a ela, a ponto de eu não saber como terminar esse texto. Talvez porque eu não queira também acreditar que tua vida tenha terminado.

Um dia eu juro que termino esse texto, meu amigo. Juro.

Por agora, fica um pedido: vai com Deus.

Hoje

Madrugou e adentramos o dia 17/03/2020.

17+03 = 20.

Dia de São Patrício.

Dia de Artemis dos Santos Lessa se mostrar pro mundo e trazer luz pra todos aqueles que terão a sorte de conviver com ela.

Esse texto era pra ser um diário do dia do parto, mas não sei se o conseguirei fazer. Pensei em várias coisas para falar aqui também, mas não sei o que vem por aqui.

Não me ocorre e nem passa nada em mente sobre como o dia de hoje pode vir a ser. Não tenho ainda ideia de quão impactante a mudança que nossa Deusinha chegar trará em nossas vidas.

É um momento de confessar que não sei o que fazer, ou como reagir.

A princípio.

Quer saber? Que se foda tudo.

HOJE É DIA DE ARTEMIS DOS SANTOS LESSA, PORRA.

Das saudades que vêm

Saudade é algo engraçado de se conceber.

É algo diferente de se viver.

Saudade é maldade.

Ou bondade.

Saudade é algo tão único, que só existe no Português. Nenhuma outra língua no mundo consegue traduzir esse sentimento como nós.

E saudade é questão de viver. Você acumula experiências, saberes, seres, prazeres, e, quando se vê, está pensando em todos eles.

Eu, por exemplo, estou deitado enquanto escrevo. Me preparei pra dormir, mas algo me instigava a mente. Atiçava. Pensei em escrever quando acordasse, mas não daria certo. E se tornaria saudade da ideia boa que tive nesse instante.

Escrevo porque estou com saudade. Saudade recente, saudade distante. Saudade presente, saudade angustiante. Saudade que me aproxima e saudade que nem me olha.

De tanta saudade que sinto, e de tanta que me acomete, nada mais justo que comparar com outra saudade que tenho:

O mar.

Sentir saudade é como a marola. Movimento e momento natural, que vem e vai, te empurra, te distrai, mas que sempre tá ali, independente à tua vontade.

Saudade que eu tava de escrever assim…

Farpa+ela

Enquanto eu tô aqui, sentado nesse ônibus, você está aí.

Fazendo o quê? Não sei.

Pensando em quem? Tampouco.

Ó, nesta mente, você tem perpassado através de muitos pensamentos. Muitas ideias. Muitos futuros, que podem se concretizar ou não.
E se já se concretizaram? Não sei.

O que sei é que, como todos os que já passaram por estes meus olhos e versos, há uma farpela sua em mim, que insiste em positivamente incomodar.

Voltar a escrever, voltar a querer. Doa a quem doer, voltar a ser.

Honestamente?

Não sei o que ou como te dizer.

Faltografia

Sábado percebi uma questão muito importante. Na urgência e necessidade de registrarmos tudo o que é possível, acabamos, por vezes, deixando de aproveitar ao máximo o que está ao redor. Explico já.

Era aniversário de amigo meu. E um terceiro amigo, em comum de todos nós, que hoje mora em Praia Grande-SP, veio pro Rio para resolver problemas (a vida adulta é feita disso, não?).

Almoçamos nós três, depois festejamos nós três também. Nos perdemos nas horas, que passavam com a crueldade de um encontro que só se repetirá sabe-se lá quando.

Aí sugeri registrarmos aquilo em foto, para que pudéssemos incluir mais um numa galeria que parece infindável.

Porém, as urgências da vida, as horas que já se tinham ido, e as demandas do que envelhecer acarreta nos impediram de perder tempo com algo que não nos colocarmos a par de tudo o que mais importa: a vida de quem amamos.

Porra, Thiago e Felipe, namoralmente, AMO VOCÊS.

P.S.: uma questão para vocês: o quão difícil é, para vocês, se declararem pra amigos?

Ouvi-dos outros.

Saí de casa pra mais um dia de luta.

Labuta. Afinal de contas, a vida é curta.

Destino em mente, ritual presente, eis que o destino me prega uma peça: fone ausente.

Tamanha tristeza, que minha bateria do celular descarrega sem pesar. A porcentagem vai embora mais rápido que notícia ruim corre a vizinhança mais fofoqueira do mundo.

Tudo isso pela falta de um fone.

Meus ouvidos deixam de ser somente meus. Ganham o mundo. Todos os detalhes ao redor se amplificam na falta dos preciosos, precisos e necessários canceladores de ruídos.

Minha mente devagar divaga e com pesar pensa em quem diz viver sem ouvir música.

O que me distrai é o fato de voltar a escrever. E uma letra lá no fundo da cabeça

There’s a lady who’s sure

All that glitters is gold…

Melhorando.

Estava sem sono, em mais um dia sem xarope. Esse maldito não só me deixava sonolento, como também me deixava letárgico.

Resolvi caminhar, maluco que sou. Ainda era cedo, alguma Cinderela ainda não havia perdido seu sapato de cristal, mas faltavam pouco mais de vinte minutos pra que mais um conto de fadas se escafedesse.

Aquela chuva fina, que mais refresca que molha, era agradavelmente suspeita, quase como se denunciando de estar tramando algo.

Meu casaco, que fazia as vezes de guarda-chuva, ficava com pequenas bolhas d’água, conforme iam se acumulando gotículas por toda a extensão do mesmo.

O tênis já estava sujo mesmo, então pouco me importava. E como era bom andar sem meias por aí! Estava descobrindo nas últimas semanas sobre essa nona maravilha do mundo moderno.

Sinal verde pros carros, vermelho pros pedestres, e eu, sem pressa, olhando para a esquina. Os desníveis do asfalto, o brilho e as pequenas poças provocadas pelo chove-não-molha do dia inteiro, e aquela famosa mancha de óleo que sempre aparece nas ruas de uma capital, por menor que seja, quando chove.

Perdido em pensamentos me acho quando vejo dois faróis acelerados entrando na curva. De tão acelerados, os mesmos pareceram entrar em câmera lenta. Não era um carro novo. E por isso talvez a dificuldade de estabilizar o mesmo na curva. A destreza, ou dificuldade, do motorista ao guiar uma direção mecânica, a beleza do contato das rodas com o molhado do terreno asfaltado, molhado e sujo, a cena quase angelical da luz do poste refletindo na lataria com marcas de desgaste só tornaram o momento mais instigante.

Maldita seja a hora que não tomei o xarope e peguei no sono.

Agora fico aqui agonizando, com a vida escorrendo por entre meus dedos, tal qual meu sangue pelo profundo corte na cabeça, a água do radiador do carro pela mangueira partida, a lágrima escorrendo pelo rosto desesperado do motorista.

E tudo isso só porque achei que estava melhorando…

Fraquejei

Hoje, na cor, o cinza se formou.

Por motivos difusos, profusos, confusos.

Motivos corretos e éticos. Perturbadores e justos?

O caos se formou, o corpo se fechou, pensamento? Se lacrou.
Cordas vocais? Travou. Acertou? Errou.

Nessa questão de caos e paz, preferi a bagunça, para trazer organização ao firmamento.

Já dizia o poeta:

Too much love will kill you.

Acho.

Acho que fomos rápido demais.
Que tomamos a direção errada.
A decisão errada.
Que era melhor termos esperado um pouco mais.

Afinal de conta, ainda estava crescendo, se desenvolvendo, tomando a forma esperada.
Tomando a proporção desejada.

Metemos os pés pelas mãos e então nos deparamos com um resultado totalmente adverso. Toda aquela expectativa foi abaixo. Toda a vontade se desfez. Todo um futuro foi comprometido.Tempos gloriosos seriam aqueles vindouros.

Ah, se arrependimento matasse.

Abrir o forno antes da hora comprometeu o bolo, aquele de cenoura com calda de chocolate, aquele mesmo, que seria café da manhã a semana toda.

Tristeza define aqueles 30 minutos esperando pra nada.

Pelo menos serviu pra festa junina do trabalho.